Por Que As Instituições Sociais Têm Tanta Dificuldade Em Captar Recursos
Das Empresas?
Por Julianna Antunes
14/10/2009
Tenho certeza que a maioria (se não todas) as pessoas que trabalham em
instituições sociais vão comentar o título dizendo: captar recurso
privado nunca foi fácil. A crise só piorou. Concordo. Em partes. Ao
contrário de países como os Estados Unidos, por exemplo, o Brasil não
tem cultura de filantropia. Lá, pessoas físicas e jurídicas doam para
causas que acreditam ou querem retribuir de alguma forma um benefício
obtido no passado. Aqui é bem diferente.
Sim, temos a barreira cultural. Sim, a crise agravou a situação.
Inclusive há pouco tempo tive acesso a uma a pesquisa sobre o impacto da
crise no setor social e os números não são muito animadores: para 66%
dos entrevistados, o número de doadores PJ caiu. Para 71,5% o volume da
doação caiu. Ou seja, o que era difícil, ficou ainda mais complicado.
No entanto, já antes da crise, as empresas faziam uma movimentação que
não sei até que ponto foi percebida pelas instituições sociais: o da
criação de seus próprios institutos / fundações e a criação do ISE
(investimento social estratégico). Hoje as empresas não querem fazer
filantropia, mas sim investir em ações alinhadas ao seu negócio, além de
ter controle sobre como o dinheiro é aplicado nos projetos sociais. E
mais do que isso: também querem resultados concretos.
Já foi época em que as instituições conseguiam captar, principalmente no
exterior, sem apresentar resultados mensuráveis, ou sem precisar prestar
contas. Atualmente, além de o dinheiro estar mais escasso, quando uma
empresa faz uma doação via ISE, ela quer também quer saber se o projeto
é compatível com seus valores e com o planejamento estratégico da área
de sustentabilidade. É aí que vemos a maior dificuldade de se captar
dinheiro.
Ainda que os projetos sejam de altíssima qualidade, muitas (muitas
mesmo) ONGs insistem em não focar em quem realmente pode ser doador.
Repito: as empresas estão cada vez mais reticentes para a filantropia.
Se o ISE é disponibilizado para educação tecnológica já que, por
exemplo, esse é um ponto nevrálgico dá área de recrutamento e seleção da
empresa, não adianta apresentar um projeto de escolinha de futebol na
favela porque não vai conseguir nada.
Tem uma frente acadêmica, inclusive, que não lida com a sustentabilidade
na prática, mas critica muito o fato das empresas exigirem uma
contrapartida para o investimento social (e também ambiental). Mas
pensemos: o que é sustentabilidade corporativa? É um processo de negócio
alinhado ao planejamento estratégico, que busca maximizar o lucro sem
comprometer (ou mitigando os impactos) o meio ambiente e a sociedade. Se
tem a ver com o lucro, é investimento, portanto, longe de ser
filantropia. E aí eu pergunto: qual o problema de ser assim?
A questão é: há muito tempo as instituições sociais falam de
profissionalização, de busca pela auto-sustentabilidade, de gestão mais
austera. No entanto, a maioria não vai além do discurso. Só que está na
hora de começar a agir, pois a crise forte (principalmente se
considerarmos as doações do exterior) e as mudanças no investimento
social das empresas não permitem mais amadorismo. Além disso, se adaptar
aos novos tempos pode ser, em muitos casos, a questão de continuar
existindo. Ou não.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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