Sustentabilidade Além da Publicidade
Por Julianna Antunes
14/05/2010
Há alguns meses soube de uma campanha chamada Black Pixel Project, cuja
premissa é a redução do consumo de energia ao instalar um ponto preto no
monitor. Propagada pelo Greenpeace, a iniciativa seria muito bonita caso
não se escondesse atrás de alguns dados inconsistentes. O primeiro
deles, é que na época de lançamento não era informado explicitamente que
a redução de consumo só aconteceria caso o programa fosse instalado em
monitores CRT. Acontece que, mundialmente falando, mais de 75% dos
monitores são de LCD, limitando bastante o escopo do projeto.
Problema de informação resolvido, já que hoje ela aparece estampada na
primeira página (não que tenha muito destaque, mas ela está lá) há outro
muito mais emblemático. Com esse projeto, o Greenpeace divulga a energia
economizada baseado no número de programas instalados. A questão é que
não sabemos quantos desses programas instalados estão efetivamente em
computadores com monitores CRT. Aliás, mesmo com a informação lá na
página principal, quantas pessoas sabem o que é um monitor CRT?
Pergunto: por que ao invés de criar uma campanha de marketing desse
tipo, o Greenpeace não se preocupa em conscientizar as pessoas a
trocarem seus monitores? Ou então simplesmente desligá-los quando não
estiverem sendo utilizados (lembro-me da ronda diária que fazia após o
expediente indo de baia em baia desligar os monitores deixados em
stand-by)?
Os cariocas devem se lembrar muito bem de outra furada do Greenpeace,
que aconteceu em março ou abril desse ano. Na ocasião, alguns
manifestantes estenderam uma faixa de protesto na ponte Rio-Niterói em
pleno horário de rush, transformando o já caótico trânsito da ponte em
algo incontrolável. Caos instalado, pessoas chegando atrasadas aos seus
compromissos, quilos e mais quilos de carbono lançados no meio ambiente
desnecessariamente.
Pergunto: quantas pessoas se posicionaram contra o Greenpeace depois
deste micão? Qual o retorno efetivo que se tem com protestos? Cadê o
discurso sendo transformado em ação? Quando digo que essas grandes ONGs
perdem ótimas oportunidades de mobilizar as pessoas em torno de causas
importantíssimas...
Outra campanha vazia, apesar de engraçadinha, foi a do Xixi no Banho,
capitaneada pela SOS Mata Atlântica. Foi uma campanha intensa. Anúncio
na TV, site bonitinho, spot em rádio, viral. Não sei quem pagou a conta,
mas de graça é que não foi. E também não foi barato. Tirando questões
higiênicas que colocariam o argumento da campanha no ralo (junto com o
xixi), como odor e até mesmo possibilidade de contaminação, no próprio
site há uma pesquisa que afirma que 73% das pessoas já fazem uso do
recurso. Provavelmente não para economizar a água da descarga, mas pela
praticidade mesmo.
Agora pergunto: faz sentido gastar tanto dinheiro para direcionar uma
campanha para 27% da população? Por que não educar as pessoas a fecharem
o chuveiro na hora de se ensaboar? Tenho certeza que atingiria, pelo
menos, 95% delas. Ou então por que não uma campanha para que o banho
dure, no máximo, 5 minutos ou uma para fechar a bica enquanto estiver
escovando os dentes?
Assim como esses três casos citados, há muitos outros exemplos que usam
a sustentabilidade como mero instrumento de autopromoção. Por outro
lado, há, também, diversas mobilizações cujo propósito de conscientizar
é efetivo, como a campanha da Sacolinha Plástica. Também engraçadinha,
ela nos mostra que, ao contrário do que muitas instituições nos fazem
acreditar, as sacolas plásticas não são vilãs do meio ambiente, mas sim
o seu mau uso e a falta de educação das pessoas.
Saber separar, nos dias de hoje, o que é atitude sustentável do que não
passa de artifício publicitário e marketeiro, é muito importante. E é
mais importante ainda quando a campanha em questão influencia uma
decisão de compra ou envolve empresas que lucram com a imagem verde. Mas
aí falar de greenwashing já é papo para outro Artigo...
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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