Sustentabilidade Corporativa e a Ética Empresarial
Por Julianna Antunes
14/10/2009
Empresas erram, é natural. Por mais que processos sejam automatizados,
eles foram feitos e são conduzidos por pessoas. E pessoas erram. Por
esse ponto de vista, o que faz a diferença entre uma empresa sustentável
e uma empresa não sustentável é a forma de ela lidar com o erro, já que
não há como dissociar a ética da sustentabilidade. Tem como imaginar uma
empresa capaz de gastar milhões na gestão de seus resíduos e ao mesmo
tempo manter uma relação danosa com seus fornecedores?
A grande questão sobre conduta empresarial e conflito de valores é que,
como disse antes, empresas são feitas de pessoas. Por mais que haja
valores corporativos, levamos para o trabalho nossos valores pessoais.
Serão eles que marcarão nossa conduta profissional. Não se aprende
dentro de uma empresa a ser ético e solidário, por exemplo. Ou essas
características são desenvolvidas ao longo de nossa vida, principalmente
no relacionamento com a família e amigos, ou simplesmente não as temos
em nossa carreira.
Os valores pessoais são sobrepostos aos valores corporativos
principalmente quando os problemas acontecem. É aí que conhecemos
verdadeiramente uma empresa. As empresas brasileiras, especificamente,
têm grande dificuldade na gestão de crises. É muito comum elas se
fecharem ao primeiro sinal de que algo errado está acontecendo. Mas para
nossa sorte, temos uma mídia implacável não apenas em relação aos
grandes veículos. A internet, hoje, permite que pessoas anônimas botem a
boca no trombone em qualquer tentativa de desmando. E se as empresas não
tiverem lideranças que tenham como valor a transparência e a ética, esse
efeito pode ser devastador.
Há pouco tempo um vídeo muito bem humorado de Dave Caroll externou sua
insatisfação com a United Airlines e virou febre no Youtube. A
companhia, que avariou seu violão em uma viagem, se recusou a
ressarci-lo pelo dano causado. Piadas e risos à parte, o episódio traz à
tona um problema muito grave das empresas: a forma como ela se relaciona
com seus consumidores. Nessas horas é que os "tais" valores reais das
empresas são evidenciados.
Apesar da chamada era da responsabilidade, as empresas parecem não se
dar conta de que o consumidor é um de seus principais stakeholders, se
não o principal. Muitas vezes a falta de transparência na condução de
negócios é o principal problema nessa relação. Voltando para a realidade
do nosso país, a burocracia, a lentidão e a falta de punições realmente
educativas (convenhamos que dois mil reais de danos morais não faz nem
cosquinha!), ajudam as empresas a perpetuarem desmandos.
Temos exemplos clássicos no segmento de telefonia, mas a percepção que
temos é de que o problema se inseriu na cultura da maioria das empresas,
independente da área. Como esquecer, por exemplo, da postura da Gol e da
TAM no auge do caos aéreo? Dizer que essas empresas vão à falência por
não agirem corretamente com seus clientes talvez seja exagero, mas hoje
a concorrência aumentou e a postura de ambas mudou. Se não por valores,
ao menos por necessidade do mercado.
A questão é que não podemos esperar das empresas a ética no seu sentido
mais pleno. Se a conjuntura econômica e/ou política permitir, elas vão
querer potencializar seus lucros sim! Alguém dúvida, por exemplo, que se
a Nestlé fechar sua operação no país hoje, a Unilever sobe seus preços
amanhã? É natural e faz parte do jogo capitalista. No entanto, nós, os
consumidores, temos um poder que até então não tínhamos: o do alcance da
palavra. E é com ele que podemos exigir transparência e ética na
condução dos negócios.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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