Sustentabilidade Corporativa e o Longo Prazo
Por Julianna Antunes
10/08/2009
Falar de sustentabilidade corporativa sem associá-la à idéia
transformação é impossível. E é justamente essa a maior dificuldade e
desafio ao se implementar o conceito em uma empresa. Transformar implica
visão em longo prazo, aumentando, por si só a complexidade de um projeto
sustentável. Quero que um, somente um, profissional de RH se manifeste
dizendo que consegue conduzir um projeto de transformação que só
contemple resultados em curto prazo.
A transformação proporcionada pela sustentabilidade corporativa é muito
profunda. Ela lida com mudança de valores, novas formas de se produzir,
negociar, comunicar, relacionar e, até mesmo, lidar com problemas. Os
resultados não aparecem em um mês, em alguns meses ou um ano. É preciso
tempo, longos anos, para que todo investimento de dinheiro, tempo e
força de trabalho faça sentido. Aí que mora o problema.
No Brasil, principalmente, as empresas não têm cultura de planejar em
longo prazo. Quer dizer, tem, mas o que elas consideram longo prazo é o
período de três anos do planejamento estratégico, podendo chegar, em
alguns casos, até cinco anos. É pouco. Projetos de sustentabilidade
requerem, muitas vezes, períodos de dez, quinze anos para que os
resultados justifiquem o investimento.
Minha experiência corporativa me fez perceber que muita dessa urgência
por resultados rápidos tem a ver com a questão dos bônus que as empresas
pagam pelo desempenho dos funcionários. Quando escrevi sobre as
características dos projetos sociais / ambientais sustentáveis, dei como
exemplo a construção de uma fábrica próxima à determinada comunidade.
Peguemos novamente esse exemplo.
Suponhamos que um dos resultados para bônus anual da área de
sustentabilidade ou RH da empresa seja a redução de 50% dos conflitos
com a comunidade do entorno das fábricas. O caminho mais fácil é a
criação de projetos paternalistas que geram retorno rápido. Assim o
conflito é reduzido e todos ficam felizes, principalmente os
profissionais que alcançaram suas metas e verão depositado em suas
contas três, quatro, sabem-se lá quantas vezes mais, o valor do seu
salário.
Mas aí faço a pergunta do milhão: onde foi parar a sustentabilidade?
Será que um projeto melhor desenhado e com mais profundidade não é capaz
de trazer melhores resultados mais para frente? E se somarmos o custo de
diversos projetos superficiais feitos com base nas metas anuais de
desempenho dos profissionais, não seriam mais caros que a implementação
de um longo projeto de sustentabilidade? Eu tenho toda segurança do
mundo para dizer que sim, eles são mais caros.
Se analisarmos mais criticamente a situação, não é apenas a área de
sustentabilidade que sofre com o imediatismo. É qualquer área. Quantas
marcas precisaram ser descontinuadas porque o diretor de marketing não
pensou nela no longo prazo? Quantos produtos não deram prejuízo porque
não tiveram a paciência para investir na maturidade de um mercado? Qual
o custo da oportunidade em ser barrado num mercado porque não se adequou
a fabricação às restrições impostas pelo país importador, pois o
planejamento estratégico de três anos não contemplou ampliação de
mercado internacional?
Situações desse tipo são corriqueiras no dia-a-dia das empresas e
refletem o egoísmo e a falta de comprometimento das lideranças. Mas
sejamos realistas, que diferença fará para um executivo uma
transformação cujo resultado pleno é perceptível daqui a uma década ou
de como a empresa estará daqui a 20 anos, se ele mesmo não sabe se
estará à frente dela quando esses resultados estiverem sendo colhidos.
Que venham, então, os bônus anuais!
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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