Sustentabilidade e a Copa de 2014
Por Julianna Antunes
14/10/2009
Tentar escrever sobre sustentabilidade esportiva é, antes de tudo,
arrumar uma baita sarna para se coçar. Para que um texto sobre o assunto
fique completo, não é possível deixar de mencionar a função social do
esporte, o impacto dos eventos no meio ambiente, a sua cadeia produtiva,
a sua atuação como potencial difusor de conceitos de sustentabilidade
etc etc etc.
Para não perder o fio da meada, vou tratar de um assunto bem específico:
a Copa do Mundo de 2014. Mais do que não sei quantas seleções disputando
um título em estádios lotados de pessoas alegres, a Copa é uma indústria
que movimenta bilhões de dólares, atua em diversos setores da economia e
gera muitos empregos. Muitos mesmo. Para 30 dias de celebração mundial,
ela requer anos de preparação e uma cadeia produtiva altamente
impactante para o meio ambiente.
A Copa do Brasil já está sendo chamada de a “Copa Limpa” ou a “Copa
Sustentável”. No entanto, para que ela realmente se concretize,
precisamos resolver dois pontos nevrálgicos: transportes e construção
civil. Quem mora nas maiores cidades do país sofre com a precariedade
dos transportes públicos, sendo praticamente obrigado a utilizar
veículos particulares para a mobilidade diária.
Pelo lado da construção civil, por mais que já se discuta amplamente a
sustentabilidade no setor, não há como negar o brutal impacto da
atividade no meio ambiente. Sem contar que para a Copa haverá a
necessidade urgente de construção e reforma no setor hoteleiro e a
modernização dos estádios já existentes, assim como a construção de
outros estádios.
Além de atacar problemas no setor de transportes e construção,
precisamos resolver problemas mais básicos do que esses. É preciso
preparar toda a infra-estrutura, como a criação de uma matriz energética
que seja pouco impactante, como a energia solar. É preciso construir
mecanismos que possibilitem a captação da água de outras fontes, como a
da chuva. É preciso, mais ainda, ter em mente que obras desse tipo são
longas, caras e que podem ser comprometidas por questões políticas,
principalmente em anos eleitorais.
Um documento muito interessante de se ler é o “Green Goal Legacy
Report”, que é um reporte dos impactos ambientais ocorridos na Copa da
Alemanha, quando o meio ambiente entrou no programa do evento pela
primeira vez. A premissa, ou o “green goal” era que todos os efeitos
adversos no meio ambiente associados à organização da Copa do Mundo
deveriam ser reduzidos ao máximo possível.
Uma série de metas foi estabelecida nos pontos mais importantes,
principalmente transporte, consumo de água e energia e mudanças
climáticas. O Green Goal Legacy Report se focou, basicamente, nos
impactos gerados no evento, como a redução de consumo de água nos
estádios, por exemplo. No entanto, sabemos que uma torneira aberta por
um turista no banheiro do seu quarto do hotel também é um impacto
causado pela Copa naquela região.
E é justamente essa questão que pode fazer a grande diferença entre o
que foi a Copa de 2006 e o que pode ser a Copa de 2014: o alcance da
sustentabilidade. Ao contrário da Alemanha, o Brasil engatinha em
infra-estrutura e desenvolvimento sustentável. Mesmo com todos os
percalços políticos que obras de grande porte geram, temos uma grande
chance de já começar fazendo o que é certo.
E independente dessas questões, precisamos, a sociedade como um todo,
focar nos ganhos que uma Copa do Mundo proporciona ao país. E aí não
falo somente no legado das construções, no legado para o turismo, nas
benfeitorias de infra-estrutura, ou na melhoria na mobilidade urbana.
Falo do legado de conhecimento, de know-how e de mudança de postura,
tanto dos cidadãos quanto das empresas, estejam elas envolvidas com a
Copa ou não.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
sustentabilidade@sustentabilidadecorporativa.com -
www.agenciadesustentabilidade.com.br - Blog:
www.sustentabilidadecorporativa.com - Twitter: @sustentabilizar
Artigo Licenciado sobre uma licença Creative Commons - Atribuição - Uso
Não-Comercial - Não a obras derivadas 3.0 Unported License