A Sustentabilidade e o Mercado Financeiro
Por Julianna Antunes
14/10/2009
Não há como falar de sustentabilidade sem pensar no aspecto financeiro.
Inclusive é o primeiro aspecto que costuma ser levado em conta. Muitas
vezes é o único. Independente da forma como a sustentabilidade é
encarada pelas empresas, há uma movimentação feita há algum tempo por
parte das instituições financeiras exigindo retornos sustentáveis para a
concessão de crédito e impondo ao mercado um novo modelo de
desenvolvimento.
Uma das principais iniciativas é um documento chamado Princípios do
Equador, de 2003. Assinado inicialmente por 10 bancos globais, três anos
depois já contava com mais de 40 signatários e passava por sua primeira
revisão. Ao assinar os Princípios do Equador, os bancos se comprometem,
dentro dos critérios acordados, a analisar e gerir riscos
socioambientais de projetos financiados e apenas conceder crédito aos
clientes que assumirem contrapartidas de responsabilidade social e meio
ambiente.
Um dos principais líderes dos Princípios do Equador na América Latina é
o Itaú, que se tornou signatário em 2006. E um adendo que torna o
documento ainda mais interessante no Brasil, é que por conta da nossa
legislação ambiental, as instituições financeiras podem ser
co-responsabilizadas por eventuais danos socioambientais que projetos
suportados por elas possam causar. Além disso, diversas ONGs perceberam
que, por muitas vezes, é mais eficiente pressionar os bancos
financiadores do que a própria indústria que capta os recursos para os
projetos.
Outra iniciativa do mercado financeiro são os fundos de ações de
empresas referência em sustentabilidade. O primeiro fundo da America
Latina foi o Ethical, do Banco Real. Criado em 2001, o fundo apresentou
de novembro de 2001 a maio de 2008 uma rentabilidade acumulada de
578,2%, contra 490,6% da valorização do índice Bovespa. Hoje há fundos
do mesmo tipo em outras instituições, como Bradesco e o Banco Itaú,
sendo este um dos mais rentáveis do país.
Atentos à importância da sustentabilidade, especialistas financeiros
criaram em 1999 o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) com o
objetivo de avaliar as empresas listadas na Bolsa de Nova York. Para
fazer parte desse índice, a empresa candidata é submetida à rigorosa
auditoria, onde são levados em consideração diversos critérios de
sustentabilidade que definem riscos e oportunidades socioambientais para
as empresas.
Seguindo o modelo do DJSI, a Bovespa criou em 2005 o Índice de
Sustentabilidade Empresarial Bovespa (ISE Bovespa), que anualmente
permite que até quarenta empresas componham sua carteira de
investimentos. Os critérios para seleção e classificação ficam sob
responsabilidade do FGV-CES, que também prepara o questionário de
avaliação. Renovado todos os anos, atualmente o ISE é composto por 30
empresas de 12 setores, com valor de mercado de 374,2 bilhões de reais.
Não tem como falar de finanças sustentáveis sem citar o microcrédito.
Com potencial de transformar vidas e mudar o mundo, o conceito se tornou
conhecido no mundo inteiro em 2006, quando Muhammad Yunus, precursor da
iniciativa para pessoas de extrema pobreza, ganhou o Nobel da Paz. Hoje
há diversas instituições sociais espalhadas pelo mundo que trabalham com
o microcrédito.
Instituições financeiras estão atentas ao potencial do microcrédito e já
começam a capitalizar com a iniciativa. O Banco Real, por exemplo, que
por cinco anos teve prejuízo com a aposta, apresentou no primeiro
semestre de 2008 resultados positivos.O lucro é pífio ("apenas" 600 mil
reais) e o volume de empréstimos não chega a 1% da operação do banco,
mas é preciso entender o contexto por trás desse serviço.
O empréstimo é de alto risco? É. O retorno é baixo? É. Mas o
desenvolvimento que ele proporciona é imenso. É uma função social e
moral que os bancos devem ter diante de lucros tão exorbitantes dessas
instituições. Isso é sustentabilidade.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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